"Jim e Cindy não podem ter filhos. Certa
noite, como uma forma de terapia, o amargurado casal escreve em pedaços de
papel os dons desejados para o filho que jamais terão, e os põe dentro de uma
caixa de madeira que é enterrada no quintal. Eles nem sonhavam que como um
milagre, surgisse um garoto da terra para completar a tão esperada família dos
Green. Entramos então no fértil território dominado pela Disney, o de fábulas
para a família no agridoce A Estranha Vida de Timothy Green.
Timothy, porém, é muito mais do que os pais
de primeira viagem podiam esperar: com folhas literalmente presas nas canelas,
escondidas por grandes meias e cujo significado simbólico vem a ser revelado
com o tempo, o garoto age conforme fora escrito, embora não exatamente da
maneira imaginada pelos pais. O que não faz a menor diferença, uma vez que
espirituoso, adorável e prestativo Timothy conquista com enorme facilidade
todos ao seu redor, inclusive o espectador tão logo o cativante ator-mirim CJ
Adams dê o primeiro sorriso.
Mas o que mais me agradou não foi a simplicidade
da história ou a sua inocente previsibilidade, e sim a melancolia empregada
pelo diretor Peter Hedges. Outono, folhas caídas, as cores lavadas dos
figurinos, os tons marrons na fotografia de John Toll – duas vezes vencedor de
Oscar -, tudo converge para criar uma sensação bem próxima da felicidade, mas
que ao mesmo tempo corre o risco de terminar a qualquer momento. E é isto que
torna emocionante a jornada de descoberta da paternidade do casal Green.
Com um ou outro momento cafona, como o
costume de Timothy de abrir os braços em direção ao sol – fato que me remeteu
imediatamente a uma espécie de fotossíntese -, a narrativa retribui com a
emoção que a Disney é familiarizada em produzir: você consegue adivinhar o que
virá na cena seguinte e até está ciente dos mecanismos usados para manipular os
seus sentimentos, mas não consegue resistir ao seu apelo.
Também ajuda o elenco
uniformemente competente, com Jennifer Garner, Joel Edgerton, Rosemarie DeWitt,
David Morse, M. Emmet Walsh e Dianne Wiest, a trilha sonora adequada e a
honestidade e sensibilidade do roteiro. Elementos que transformam a
aparentemente banal fórmula da Disney em algo genuinamente tocante".
Márcio Sallem - Blog O Estado
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