Não é exagero dizer que os filmes do diretor
Quentin Tarantino já são um subgênero do cinema atual. Suas brincadeiras, a
influência da cultura pop, o humor como maquiagem para a violência, são
características que tornam suas obras tão peculiares. Depois de usar os filmes
de guerra como fundo para desfilar suas loucuras criativas em “Bastardos
Inglórios”, ele agora ruma para o faroeste e repete a dose com “Django Livre”
em grande estilo.
Na trama, Django (Jamie Foxx) é um escravo
que acaba sendo comprado pelo Dr. King Schultz (Christoph Waltz), um caçador de
recompensas alemão. Após realizar uma missão, Schultz libera Django, embora os
dois homens decidam continuar juntos. O alemão resolve então ajudar o novo
amigo a salvar a sua esposa de Calvin Candie (Leonardo DiCaprio), um burguês
fanático por lutas entre escravos.
Ao longo de “Django”, Tarantino passeia por
todas as suas já conhecidas manias de direção ao homenagear o western
spaghetti. Desde o visual “retrô” dos créditos iniciais, quebras bruscas de
ritmo para a aparição de letreiros explicativos, zooms velozes para simbolizar
o olhar de alguém…está tudo lá. Referências pop aos filmes do gênero, a louvável
trilha sonora alternativa (que vai desde ritmos pesados até lembranças do
saudoso Ennio Morricone), nomes de personagens com alusão a figuras da
literatura e do cinema (como Broomhilda Von Shaft e D’Artagnan), também.
Desde o início o espectador precisa estar
consciente de que não está diante de um faroeste, e sim, um grande e divertido
produto comercial. É um filme de Quentin Tarantino! Há a violência exagerada,
com direito a muito sangue, mas que assim como em “Kill Bill”, soa tão
cartunesca que na maioria das vezes provoca risos (com exceção de uma forte
cena envolvendo cães e um escravo). O humor provocado por tal ar fantasioso é
um dos pontos fortes do longa, com direito a um impagável momento em que o
movimento Ku Klux Klan é zoado sem piedade por causa dos capuzes um
tanto…simples.
Abordando mais uma vez o tema vingança, o
roteiro do próprio Tarantino usa de forma eficiente o carisma dos personagens
para criar bons momentos de diversão, intercalados com cenas de ação. Desta
vez, sua obra traz um teor mais crítico ao foca a maneira suja como os escravos
eram tratados, semelhante a animais. É bom deixar claro: as demoradas 2 horas e
45 minutos de duração podem ser um defeito para muitos, até porque o diretor se
prolonga em demasia no ato final, quando até 20 minutos poderiam ser cortados
sem prejuízo.
Mas os diálogos prolongados, recheados de
referências e ironias, continuam sendo a marca forte do cineasta. Assim como
fizera na cena inicial de “Bastardos Inglórios”, com uma longa conversa de
coronel Hans Landa e um pai de família judeu antes de mutilar toda a sua
família, ele repete a sensação em “Django” no clímax, durante um jantar. Um
bate papo aparentemente calmo, mas com tensão a mil.
Jamie Foxx está muito convincente na pele do
protagonista. Um personagem complexo, visto que por trás do jeito ingênuo e sem
conhecimentos básicos sobre a vida, acumula um grande ódio da sociedade e age
apenas pelos próprios princípios, sem se importar com suas raízes ou com desejo
de beneficiar os escravos que não conhece. Leonardo DiCaprio, apesar de
aparecer apenas da metade para o fim da projeção, mostra mais um bom trabalho
na pele de um vilão com voz sempre calma e serena, muitas vezes até com jeito
abobalhado, mas com ar ameaçador. Alguns “xodós” do diretor, como Michael Parks
e Zöe Bell, também dão as caras, além da participação de Franco Nero (ator
italiano intérprete do Django original que inspirou Tarantino).
Mas no fim das contas, é Christoph Waltz quem
novamente rouba a cena. Depois de levar o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por
“Bastardos Inglórios”, ele torna o Dr. Schultz uma figura extremamente humana e
carismática, por mais que ganhe a vida matando pessoas. Sem dúvidas, mais uma
atuação com garantia de premiações. Destaque também para Samuel L.Jackson.
Acostumado com papéis de durão, ele está ótimo na pele de um capataz negro, mas
que age como branco, e o jeito avariado pelo tempo o tornam cômico, apesar de
toda a hipocrisia e malícia em suas falas.
Fato é que a cada nova obra, sempre
aparecerão comparações com “Cães de Aluguel” e “Pulp Fiction – Tempo de
Violência”, filmes que lançaram Tarantino ao estrelato. “Django Livre” é
diversão com uma direção refinada. Previsível? Demais! Mas nos casos dos filmes
dele, isso não significa ser ruim.
Fonte: Cena Cultural - Thiago Sampaio
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