"Faroeste Caboclo sempre
foi uma canção cinematográfica. A saga de João de Santo Cristo, criada por
Renato Russo e alçada ao posto de um dos maiores clássicos da Legião Urbana, é
uma das letras mais emblemáticas do rock brasileiro. Nada mais natural, portanto,
que a história fosse transportada, efetivamente, para a tela dos cinemas.
Dirigido por René Sampaio,
Faroeste Caboclo, o filme, estreou no último dia 30 de maio em diversas salas
de todo o país. Com roteiro escrito por Victor Atherino e Marcos Bernstein, o
enredo se baseia na letra da música, mas não é a transposição literal da
história imaginada por Renato. Esse é apenas o primeiro dos muitos acertos.
Evitando o recurso fácil e tentador de citar frases completas da extensa letra
nos diálogos, Sampaio torna o filme autêntico, verossímil e nada gratuito. Um
exemplo claro acontece logo no início, quando João, interpretado com primor por
Fabrício Boliveira, chega à Brasília no período natalino e, ao ver as luzes
decorativas, é apenas enquadrado pela câmera enquanto a sua mente imagina as
possibilidades que ele encontrará na capital federal - nada de o personagem
abrir a boca e declamar um “saindo da rodoviária fiquei bestificado com as
luzes de Natal, meu Deus que cidade linda, no ano novo eu começo a trabalhar”.
René Sampaio imprime um
clima de faroeste em todo o longa, usando com frequência paisagens áridas e
poeirentas para ambientar a trajetória de Santo Cristo. Isso, aliado à
fotografia inspirada de Gustavo Hadba, coloca o filme em um patamar elevado. Há
ângulos inusitados e enquadramentos muito bem feitos, que se utilizam de
recursos como luz e sombra para contar a história com muito mais dramaticidade
e um inegável requinte visual.
Outro ponto positivo de
Faroeste Caboclo é o elenco. Além de Boliveira (João de Santo Cristo) temos
Ísis Valverde (Maria Lúcia), Felipe Abib (Jeremias), César Troncoso (Pablo) e
Antônio Calloni (como o detetive Marco Aurélio) em atuações que vão de
competentes (no caso de Valverde) há inspiradas (Abib, Pablo e Calloni). Como
nota negativa apenas a participação praticamente nula do falecido Marcos Paulo
como o Senador Ney, pai de Maria Lúcia, personagem totalmente dispensável.
Como já dito, o filme é
baseada na canção, mas não é literal à ela. O roteiro parte da letra de Renato
Russo e leva o espectador para outro lugar, fiel à trama, mas muito mais
autêntico e doloroso. Essa escolha torna a trajetória de Santo Cristo ainda
mais cruel, tornando quase impossível a não identificação com o personagem. O
filme não economiza ao mostrar cenas fortes e até mesmo brutas, e essa escolha
só intensifica o clima de realidade que transborda da tela.
Em comparação ao outro filme
envolvendo a Legião Urbana lançado recentemente, Somos Tão Jovens, Faroeste
Caboclo ganha de goleada. Enquanto Somos Tão Jovens peca pela produção
precária, mas ganha na homenagem sincera que faz aos primeiros anos da carreira
de Renato Russo, a obra de René Sampaio é cinema de verdade. A cena do esperado
duelo entre Santo Cristo e Jeremias, ápice do filme, bebe direto na fonte do
diretor italiano Sergio Leone, variando planos fechados nos olhos dos
protagonistas com cortes secos para outros pontos da tela, fazendo que,
inconscientemente, a associação com o grandes clássicos do faroeste seja
imediata.
Faroeste Caboclo é um grande
filme, que faz juz à história criada por Renato Russo e a torna ainda mais
forte e atual. Além disso, revela um diretor diferenciado, René Sampaio, que
mostra talento e potencial para brilhar muito em seus próximos projetos.
Compre já a pipoca e o
refrigerante, porque vale muito a pena".
Fonte: www.collectorsroom.com.br/2013/06/critica-do-filme-faroeste-caboclo-2013.html
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