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segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Filme: Wolverine Imortal


"Assim, é bem-vinda a tentativa dos roteiristas Mark Bomback (Incontrolável) e Scott Frank (Minority Report – A Nova Lei) em adaptar a idolatrada saga japonesa dos quadrinhos e humanizar o (anti-)herói por meio da remoção de seu fator de cura, ou da imortalidade segundo o horroroso subtítulo nacional, e também do ímpeto selvagem pelos holofotes, diluído em uma história que acertadamente entrelaça seus dramas existenciais a interesses de terceiros, ao invés de dedicar-se cegamente àqueles. Como resultado, Wolverine – Imortal encontra Logan a ermo depois do término dos X-Men, enquanto remói em pesadelos a morte do seu grande amor, Jean Grey (Famke Janssen). Até aparecer Yukio (Rila Fukushima) e o convencer a ir ao Japão para se despedir de Yashida (Hal Yamanouchi), um empresário bilionário e ex-soldado cuja vida salvou durante o ataque atômico a Nagasaki. Mas ao chegar na terra do sol nascente, o cajun é surpreendido com a proposta do anfitrião, que lhe oferece uma morte honrada em troca de sua imortalidade, e se vê no meio da disputa sucessória envolvendo Shingen (Hiroyuki Sanada) e Mariko (Tao Okamato), perseguida por membros da Yakuza.

Após uma série de eventos que resulta na perda de sua invulnerabilidade, Logan assume a condição de protetor de Mariko, o que serve intimamente como uma oportunidade para remendar seu passado trágico além de lhe abrir os caminhos para o coração da recatada e ingrata moça, com quem visivelmente não tem tempo para desenvolver alguma química, funcionando então como um fardo durante o arrastado segundo ato. Mas não é apenas isto que pode ser posto na conta do roteiro pedestre, ao menos nesse sentido, como também a profusão de diálogos embaraçosos (“A carne do mutante está fraca”), expositivos (“Todos que ama, morrem”) e óbvios (“Você está diferente. Podem ferir você. Podem matar você”), que aproximam perigosamente esta aventura-solo do mutante da aventura de origem anterior.

Entretanto, o diretor James Mangold (Johnny & June, Encontro Explosivo) demonstra que aprendeu com os erros do colega Gavin Hood (diretor do antecessor), no sentido que a narrativa não salta episodicamente de um set piece ao outro como desculpa para desfilar uma diversificada vitrine de mutantes. Pelo contrário, esta fluida aventura japonesa dá sinais de maturidade e confia tanto em si própria – perante aos fãs, sobretudo – que apresenta só 2 novos mutantes, Yukio e Viper (Svetlana Khodchenkova, uma quase cópia-carbono da Hera Venenosa de Uma Thurman. Sério!), o que não impede que o excesso de personagens comprometa o seu desenvolvimento. Algo que Mangold compensa nas bem-dirigidas sequências de ação que pecam unicamente por serem assépticas demais, quando o derramamento de sangue é obrigatório em se tratando de alguém que utiliza afiadas garras de adamantium.

A propósito, a vulnerabilidade é essencial em acentuar o perigo que Logan enfrenta nessas cenas e consequentemente o envolvimento do espectador. Algo que é majorado mais ainda quando ele enfrenta o Samurai de Prata (melhor dizendo, “prata”), um adversário ameaçador mesmo que escalado no filme errado (perdoem-me, mas da forma vista aqui, ele seria um adversário melhor para o Homem de Ferro). Esse aspecto e o senso de humor pertinente de Mangold – diverti-me assistindo ao banho e tosa de Logan -, quando pesados na balança, superam inclusive o inexistente suspense proveniente da premonição de Yukio, a artificialidade das conversas imaginárias com Jean, que servem somente para expor em voz alta os conflitos internos do protagonista, ou então a cirurgia cardíaca que ele realiza em si próprio, para provar ser mais durão do que pensávamos que ele fosse.

Por sua vez, Wolverine – Imortal merece elogios pelo design de produção de François Audouy, que resgata memórias de produções ambientadas no Japão (Com 007 só se vive duas vezes e Marcado para morrer), e pelo uso correto dos efeitos especiais, conferindo ao mutante garras convincentes (outra lição aprendida com o antecessor). Finalmente, Hugh Jackman encontra na busca pelo propósito da eternidade algo mais dramático do que a perda bradada enquanto segurava o corpo sem vida de Jean. E esta postura macambúzia nada tem a ver com os chatos e amargurados Peter Parker de O espetacular Homem-Aranha e Kal-El de O homem de aço, conferindo profundidade ao personagem sem, contudo, extrair o divertimento que o gênero geralmente proporciona, acentuado pela empolgante trilha sonora de Marco Beltrami que faz bom uso de típicos sons japoneses.

Apesar de evitar discutir os temas propostos na série X-Men, limitando-se a uma fala preconceituosa e deslocada de Singen, Wolverine – Imortal,  de candidato a novo filme de gênero, é na verdade uma jornada de remissão e exorcização do passado – que bela ironia na vida do personagem -, equilibrada satisfatória e eficientemente entre a ação e o drama.

P.S.: A cena durante os créditos finais, ao estilo Vingadores, é, em apenas uma palavra, sensacional!"

Por Márcio Sallem - Em Cartaz

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