“Ainda há um lampejo de
civilização no açougue bárbaro que se tornou a humanidade”. Essa máxima,
proferida pelo Monsieur Gustave (Ralph Fiennes) algumas vezes ao longo da
projeção, revela exatamente o que existe por trás da comédia “O Grande Hotel
Budapeste”. O diretor Wes Anderson (Os Excêntricos Tenenbaum, A Vida Marinha de
Steve Zissou, Viagem a Darjeeling), um dos nomes mais criativos e incensados da
Hollywood atual, tece uma deliciosa comédia na qual o personagem principal é um
concierge de um hotel de luxo na fictícia Zubrowka, na Europa do Leste, antes
desta passar pelas agruras da revolução e mudar para sempre com a guerra.
Segundo o site G1 somos
convidados a conhecer a República (imaginária) de Zubrowka, país situado nos
confins do leste europeu e que abriga um hotel que reina no alto de uma
montanha. Tanto o país quanto o hotel foram afetados por grandes acontecimentos
no século 20: a “Belle époque” cedeu lugar a um crescente fascismo, que
culminou com uma guerra. Como se não bastasse, o país fez parte do bloco
comunista. Eis o pano de fundo em que se desenrola o filme.
Não faltam elogios ao filme.
Não sem motivo, visto que não lhe faltam superlativos, a começar pelo elenco,
um verdadeiro desfile de grandes atores.
Em cena, Ralph Fiennes (M.
Gustave, o concierge), Jude Law (jovem escritor), Adrien Brody (o vilão
Dmitri), Edward Norton (o militar Henckels), Bill Murray (o amigo de Gustave,
M. Ivan), sem falar na memorável atuação de Tilda Swinton, irreconhecível na
pele de uma milionária octagenária, Madame D.
Seria injusto não mencionar
a excelente atuação do novato Toni Revolori (Zero, fiel escudeiro do concierge)
e da bela Saoirse Ronan (Agatha), sua namorada.
Além desta constelação de
talentos, o filme impressiona pela fluidez com a qual a ação se desenrola.
Tanto os atores, quanto o roteiro, a fotografia, o figurino, tudo foi pensado
de modo a fazer da trama de Wes Anderson uma verdadeira alegoria dos eventos
que marcaram a Europa no século passado através daqueles que o viveram.
A trajetória do concierge
vivido por Ralph Fiennes chega até nós graças ao encontro com aquele que foi
seu fiel escudeiro, Zero (na maturidade, interpretado por F. Murray Abraham)
com um jovem escritor - espécie de alter-ego do escritor Stefan Zweig
(austríaco que, desencantado com os rumos da 2ª guerra, suicidou-se em
Petrópolis, em 1942), cujos livros serviram de inspiração na construção do
roteiro.
Esta parte da ação ocorre
nos anos 1960, mas logo seremos transportados aos anos gloriosos do hotel, no
começo da década de 1930, quando os corredores eram percorridos pela elite
europeia e M. Gustave era um verdadeiro maestro, tendo que lidar com os
caprichos dos hóspedes, mas também com a rotina dos empregados - tudo isto sem
jamais perder a classe.
“O grande Hotel Budapeste” é
um filme em que cada personagem parece retratar com grande talento os encantos
deste microcosmo – e a trama apresenta reviravoltas no melhor estilo Agatha
Christie. Visualmente, a sincronia dos movimentos da câmera em relação ao
roteiro e às nuances de interpretação remete a filmes como “Delicatessen” (de
Jean-Pierre Jeunet, 1991).
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