Ei Pessoal,
Bom Dia!
Dando uma olhada nos filmes que estão em cartaz encontrei esse. Já faz um tempo que não indico um romance, então decidi postar essa crítica que me interessou bastante e está na revista Vogue. Ainda não assisti ao filme, mas confesso que fiquei bastante interessada.
Houve alguém que
disse – e não com pouca razão – que se “A Árvore da Vida” foi a “2001: Odisseia
no Espaço” de Terrence Malick, então “A Essência do Amor” é o seu “Blue
Valentine”.
Depois de 40 anos
de carreira que se espremeram em apenas cinco longas-metragens, Malick parece
ter abandonado o modo “velocidade geológica” ao lançar um novo filme apenas um
ano depois do seu último (“A Essência do Amor” estreou no festival de Cinema de
Veneza em setembro do ano passado), e tendo mais três projetos no horizonte
para os próximos dois anos. O novo drama - que atestado está que se mostrará
tão divisivo, ou até mais, que o seu antecessor - explora corajosa e
liricamente as complexidades do Amor em todas as suas formas.
Marina é uma mãe
solteira parisiense que se apaixona por Neil, um turista americano. Juntos,
apaixonam-se e vivem intensamente na eterna cidade do amor – Paris. Quando Neil
regressa a Oklahoma, Marina e a sua filha de 10 anos vêm com ele, dispostos a
iniciar uma vida como família. Todavia, a relutância de Neil em casar é apenas
um sintoma de uma relação que, não se sabe bem quando, entrou em fase
minguante. Quando o seu visa está prestes a expirar, Marina conhece um Padre
que, também ele, se convulsa com questões interiores, de fé e amor. Enquanto
isso, e para complicar um quadro já tão complexo, Neil reencontra-se com o amor
de infância, Jane. O paralelismo entre o “triângulo amoroso” e o Padre é claro:
a perda da chama do amor assemelha-se muito a uma crise de fé, e vice-versa.
"A
Essência do Amor" faz a crónica das purezas e dores do amor romântico,
enquanto elabora, ao mesmo tempo, sobre ideias que envolvem uma presença maior
que nos guia. É um quadro dicotómico - doce e tortuoso, claro e lúcido enquanto
é opaco - e uma das visões mais poéticas e assombrosas das lutas, tentações,
convulsões e ilusões do Amor.
Este pode não ser
o melhor filme de Malick, ou sequer o mais ambicioso. Mas ao lidar com questões
tão pessoais como o amor e a crença, o realizador desafia-nos a pensar. Não há
muitos cineastas capazes de abordar tais questões fraturantes, muito menos de
forma tão visceral e simultaneamente artística.
Como vem sendo
hábito na sua filmografia, a narrativa não existe nos limites que
tradicionalmente lhe conhecemos – ainda que este seja, por ventura, o mais
linear das suas incursões -, mas paira mais como uma série de memórias,
relances, sentimentos; mais uma ópera do que propriamente um filme.
Tal como aconteceu
em “A Árvore da Vida”, é a protagonista feminina que se destaca de um lote
muito reduzido de atores. Olga Kurylenko é hipnótica como Marina, provendo-lhe
uma ferocidade emocional que é o nosso principal ponto de ligação. Em
contraste, Ben Affleck parece mais um erro de casting – enquanto é verdade que
nem todos os atores serão capazes de suprir os requisitos do trabalho difícil
com Malick, o realizador de “Argo” parece aqui especialmente perdido.
“A Essência do
Amor” é mais um testamento à constante procura de respostas a perguntas sem
resposta por parte de Malick: qual é a nossa relação com uma presença maior que
pode guiar as nossas escolhas? Como é que nos relacionamos com os outros e o
que nos rodeia? O que é o amor, e como aprendemos a conviver com ele, domá-lo?
Eventualmente, e
revisitando a questão da “Escolha” colocada no próprio filme, “A Essência do
Amor” aproxima-se perigosamente de uma espécie de autorreferência parodiada,
que não beneficia em nada de um terceiro ato redundante – tanto visual, como
retoricamente. Contudo, estas são faltas cometidas apenas por aqueles que
tentam a diferença através da escolha.
E se são falhas
dessas com as quais teremos de conviver para continuar a beber da mente de um
dos mais poderosos e distintos cineastas americanos, então esse é apenas um
pequeno preço a pagar por uma experiência única que continua a fazer valer o
estatuto de Arte ao Cinema.
Em jeito de fecho,
há muito neste novo filme de Malick que se constrói à volta da dúvida, da dor,
da solidão e da perda. Terá o seu espírito otimista ficado perdido pelo
caminho? Não necessariamente, já que o final aberto pode trazer, de acordo com
a interpretação, a redenção.
Porque o homem
vive na ânsia. A ânsia do bem, do grande, do divino, do amor. E é essa ânsia,
essa sede que se alimenta dos sonhos, que no final nos salvará da negritude do
desespero.
Por: Catarina D'Oliveira
Nenhum comentário:
Postar um comentário