"Assim, é bem-vinda a
tentativa dos roteiristas Mark Bomback (Incontrolável) e Scott Frank (Minority
Report – A Nova Lei) em adaptar a idolatrada saga japonesa dos quadrinhos e
humanizar o (anti-)herói por meio da remoção de seu fator de cura, ou da
imortalidade segundo o horroroso subtítulo nacional, e também do ímpeto
selvagem pelos holofotes, diluído em uma história que acertadamente entrelaça
seus dramas existenciais a interesses de terceiros, ao invés de dedicar-se
cegamente àqueles. Como resultado, Wolverine – Imortal encontra Logan a ermo
depois do término dos X-Men, enquanto remói em pesadelos a morte do seu grande
amor, Jean Grey (Famke Janssen). Até aparecer Yukio (Rila Fukushima) e o
convencer a ir ao Japão para se despedir de Yashida (Hal Yamanouchi), um
empresário bilionário e ex-soldado cuja vida salvou durante o ataque atômico a
Nagasaki. Mas ao chegar na terra do sol nascente, o cajun é surpreendido com a
proposta do anfitrião, que lhe oferece uma morte honrada em troca de sua
imortalidade, e se vê no meio da disputa sucessória envolvendo Shingen
(Hiroyuki Sanada) e Mariko (Tao Okamato), perseguida por membros da Yakuza.
Após uma série de eventos
que resulta na perda de sua invulnerabilidade, Logan assume a condição de
protetor de Mariko, o que serve intimamente como uma oportunidade para remendar
seu passado trágico além de lhe abrir os caminhos para o coração da recatada e
ingrata moça, com quem visivelmente não tem tempo para desenvolver alguma
química, funcionando então como um fardo durante o arrastado segundo ato. Mas
não é apenas isto que pode ser posto na conta do roteiro pedestre, ao menos
nesse sentido, como também a profusão de diálogos embaraçosos (“A carne do
mutante está fraca”), expositivos (“Todos que ama, morrem”) e óbvios (“Você
está diferente. Podem ferir você. Podem matar você”), que aproximam
perigosamente esta aventura-solo do mutante da aventura de origem anterior.
Entretanto, o diretor James
Mangold (Johnny & June, Encontro Explosivo) demonstra que aprendeu com os
erros do colega Gavin Hood (diretor do antecessor), no sentido que a narrativa
não salta episodicamente de um set piece ao outro como desculpa para desfilar
uma diversificada vitrine de mutantes. Pelo contrário, esta fluida aventura
japonesa dá sinais de maturidade e confia tanto em si própria – perante aos
fãs, sobretudo – que apresenta só 2 novos mutantes, Yukio e Viper (Svetlana
Khodchenkova, uma quase cópia-carbono da Hera Venenosa de Uma Thurman. Sério!),
o que não impede que o excesso de personagens comprometa o seu desenvolvimento.
Algo que Mangold compensa nas bem-dirigidas sequências de ação que pecam
unicamente por serem assépticas demais, quando o derramamento de sangue é
obrigatório em se tratando de alguém que utiliza afiadas garras de adamantium.
A propósito, a
vulnerabilidade é essencial em acentuar o perigo que Logan enfrenta nessas
cenas e consequentemente o envolvimento do espectador. Algo que é majorado mais
ainda quando ele enfrenta o Samurai de Prata (melhor dizendo, “prata”), um
adversário ameaçador mesmo que escalado no filme errado (perdoem-me, mas da
forma vista aqui, ele seria um adversário melhor para o Homem de Ferro). Esse
aspecto e o senso de humor pertinente de Mangold – diverti-me assistindo ao
banho e tosa de Logan -, quando pesados na balança, superam inclusive o
inexistente suspense proveniente da premonição de Yukio, a artificialidade das
conversas imaginárias com Jean, que servem somente para expor em voz alta os
conflitos internos do protagonista, ou então a cirurgia cardíaca que ele
realiza em si próprio, para provar ser mais durão do que pensávamos que ele
fosse.
Por sua vez, Wolverine –
Imortal merece elogios pelo design de produção de François Audouy, que resgata
memórias de produções ambientadas no Japão (Com 007 só se vive duas vezes e
Marcado para morrer), e pelo uso correto dos efeitos especiais, conferindo ao
mutante garras convincentes (outra lição aprendida com o antecessor).
Finalmente, Hugh Jackman encontra na busca pelo propósito da eternidade algo
mais dramático do que a perda bradada enquanto segurava o corpo sem vida de
Jean. E esta postura macambúzia nada tem a ver com os chatos e amargurados
Peter Parker de O espetacular Homem-Aranha e Kal-El de O homem de aço,
conferindo profundidade ao personagem sem, contudo, extrair o divertimento que
o gênero geralmente proporciona, acentuado pela empolgante trilha sonora de
Marco Beltrami que faz bom uso de típicos sons japoneses.
Apesar de evitar discutir os
temas propostos na série X-Men, limitando-se a uma fala preconceituosa e
deslocada de Singen, Wolverine – Imortal,
de candidato a novo filme de gênero, é na verdade uma jornada de
remissão e exorcização do passado – que bela ironia na vida do personagem -,
equilibrada satisfatória e eficientemente entre a ação e o drama.
P.S.: A cena durante os
créditos finais, ao estilo Vingadores, é, em apenas uma palavra, sensacional!"
Por Márcio Sallem - Em Cartaz
Nenhum comentário:
Postar um comentário