Boa Tarde!
Como passaram de fim de ano? Muita festa e alegria?
Para começar o ano com pé direito e já de cara nova, vamos à dica.
"Baseado em fatos reais, conhecemos o
empresário aristocrata e tetraplégico Philippe (François Cluzet) que em busca
de um assistente para ser responsável por seu cuidado se vê diante de diversos
engomadinhos dispostos a um novo emprego, mas decide contratar justamente
aquele que menos se esforçou em conseguir a vaga, Driss (Omar Sy), negro,
imigrante senegalês que tudo o que queria era um seguro desemprego para se
manter após sair da prisão, no qual ficou por seis meses. Driss que pouco se
importa com a deficiência de Philippe, passa a se divertir na mansão que agora
tem por direito, além de dar em cima da bela secretária e assim, nasce uma
inusitada amizade e simplesmente por um não colocar rótulos no outro, é nesta
relação que eles se prendem para fugir da triste realidade que ambos enfrentam.
Apesar do que possa parecer de início,
"Intocáveis" foge bastante do drama e acaba se firmando como comédia,
quase que pastelão, por vezes. E assim, acaba surpreendendo. Quando esperávamos
moralismos, discussões sociais e um final dramático, encontramos, na verdade,
muito humor, tudo que poderia ter uma grande densidade é convertido em piada,
mesmo quando se trata de assuntos que de fato, quase nunca são vistos como
piada, é então que o roteiro encontra sua grande arma, o politicamente
incorreto. É hilário o descaso de Driss para com o amigo ou também quando se
surpreende pelo preço pago do empresário em uma obra de arte, entrando diálogos
que todos tiverem vontade de um dia dizer, mas que tiveram medo de se mostraram
"não cultos", o roteiro não veta nada nem ninguém, nem música
clássica, nem mesmo programas televisivos destinados a deficiência infantil,
tudo vira piada, de forma direta e sem receios.
É um filme sobre opostos, do real à fantasia,
onde o roteiro se mostra livre em romantizar a trajetória dos amigos, forçando
às vezes, mas tudo ocorre de forma agradável. Da comédia ao drama, onde também
sabe lidar com a emoção. Colocando em cena, negro e branco, rico e pobre, a
deficiência e a saúde em pessoa, dois pontos extremamente opostos mas que
surgem de forma harmoniosa e o roteiro não perde tempo em refletir sobre eles e
este, acredito eu, é seu maior trunfo, pois não há maneira mais digna de se
falar sobre as diferenças as colocando no mesmo patamar, evitando discussões,
não de forma alienada, afim de não de ser polêmico, mas de forma a compreender
que as diferenças podem coexistir.
"Intocáveis" usa estas diferenças
para seu bem, através de um roteiro bastante correto, é capaz de fazer grande
parte do público se identificar com a trama, porque no fundo, o filme é
bastante comercial, feito na medida para agradar, mas também agrada os mais
exigentes, a dupla de diretores, Olivier Nakache e Eric Toledano realizam um
belíssimo trabalho, fazendo bom uso das câmeras, além da incrível fotografia e
sensível trilha sonora. Sabem, também, tirar bom proveito de seu elenco, Omar
Sy tem tudo para o grande estrelato, carismático e excelente ator, rouba a cena
na maior parte do tempo, é extremamente engraçado, suas falas parecem um grande
improviso de tão naturais. François Cluzet tem seus momentos, convence e ao
lado de Omar, a dupla parece se divertir na tela, e quem sai ganhando somos
nós, pois as cenas cômicas, foram, com certeza, as que mais me fizeram rir este
ano.
É sobre estes dois homens intocáveis, um com
a sua deficiência, seja social ou física, mas que aprenderam uma das mais
valiosas lições, a rir da própria desgraça. De trama fácil e bem resolvida, o
cinema francês nunca esteve tão aberto a tantos públicos e isso de forma alguma
é algo negativo, não deixa de ser bom, inteligente, que leva diversão e
reflexão na mesma medida. Tocante e engraçado. Simplesmente imperdível".
O filme é incrível e a crítica foi escrita por Fernando Labanca do Cinemateca.