Para entrar na faculdade eu
tive que "passar no vestibular" e meu namorado também. Fui aprovada
em uma universidade federal, para um curso bem colocado nas avaliações do MEC,
ele também. Foram muitos dias, noites, feriados e fins de semana de estudo,
para ele também.
Qual a diferença? Que eu fiz
duas provas para conseguir ingressar e ele fez três? Que meu curso era noturno
e o dele integral? Não! A diferença é que eu fiz Direito e ele Música.
Me incomoda profundamente a
visão distorcida e preconceituosa que tantas pessoas têm. Será que precisamos
só de advogados, juízes, engenheiros, médicos e administradores? É sempre uma
cara espanto, seguida da pergunta: você trabalha em outra coisa? Esse é o seu
trabalho?
Não entendo porque ele
deveria fazer outra coisa. Essa também não é uma profissão? E quem foi que instituiu o que deve ser considerado como profissão? Infelizmente
parece-me que um professor também passa por isso. Então, se é assim, meu
namorado pode desistir. O que se pode esperar de um músico e professor?
Só não sei o que seria do
seu casamento, da sua formatura, das baladas, dos bares, dos filmes, das
novelas, das crianças, enfim, da vida, sem música.
Qual o problema dessa
profissão? Trabalhar durante a noite ou durante o dia enquanto as outras
pessoas se divertem? Ou trabalhar muito dando aula em escolas de músicas ou
aulas particulares? Acho que o problema é a construção de um estereótipo de
safadeza, de falta de profissionalismo e de falta de conhecimento que algumas
pessoas que se dizem tão cultas e esclarecidas espalharam e espalham por aí. Se eu dissesse, porém, que
não existem profissionais assim eu estaria sendo injusta, afinal em qual
profissão não existem os piores dos piores?
Se
você acha que tudo é fácil na vida de um músico e vira festa no fim, tal qual o
ditado “sexo, drogas e rock n’ roll”, tente ao menos um dia se colocar no lugar
de um profissional sério, que estuda constantemente para aprimorar as técnicas,
que muitas vezes é desvalorizado e mal remunerado, mas que assim como você, paga
todas as contas no fim do mês.
Por fim, digo que esse texto não é uma lição de moral. É só um desabafo e que talvez sirva de reflexão, não apenas quando se trata de um músico, mas também no que diz respeito à tantas profissões e profissionais que são desvalorizados por aí. Reflita antes de julgar! Será que você nunca precisou ou precisará de algum deles em algum momento da sua vida? Como seria a sociedade sem eles?
Somos todos interdependentes e nossos conhecimentos e habilidades se complementam.
Thina
Thina